
Segue alguns trechos de reportagens sobre o assunto.
Rodrigo Taves do jornal O Globo em 24 de setembro:
CLÁUDIA (MT) e NOVO PROGRESSO (PA)- O cenário é desolador. O avião sobrevoa uma extensa área completamente esturricada, ainda há focos de fogo na vegetação, a floresta arde. O piloto faz uma curva radical à esquerda, e logo se vêem toras de castanheira, árvore protegida da Amazônia, agonizado em chamas. Sobem grossos rolos de fumaça, que deixam o ar quase irrespirável. Mais à frente, muitas outras castanheiras estão sendo queimadas. O clima a bordo do monomotor Cessna Caravan do Greenpeace é de velório. Já não resta dúvida: o Parque das Castanheiras, no município de Cláudia, Norte de Mato Grosso, área de Floresta Amazônica, está sendo destruído pelo fogo. Informações reunidas já permitem afirmar que o ritmo de devastação da Amazônia, que diminuíra 49% nos últimos dois anos, voltou a aumentar a partir de maio de 2007. Pelos dados do PrevFogo, o número de queimadas em áreas de floresta cresceu 30% este ano em relação a 2006. Só em agosto, foram registrados 16.592 focos de calor em florestas, o dobro do mesmo mês do ano passado. Em maio último, quando a curva dos gráficos voltou a subir, o desmatamento registrado foi quatro vezes maior que em maio de 2006. Em Mato Grosso, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) já detectou aumento de 200% no desmatamento nos meses de maio, junho e julho deste ano, interrompendo a trajetória de queda.
Do site da TVCA em 03 de outubro:
"A Justiça Federal determinou a abertura de inquérito policial para apurar as responsabilidades do poder público sobre as queimadas em Mato Grosso.De acordo com o juiz Julier Sebastião da Silva, o Estado vive um desastre ambiental sem que o poder público estadual e federal tenha tomado qualquer providência. A decisão considera também que o Estado foi omisso ao liberar as queimadas entre os dias 25 e 30 de setembro, o que agravou o problema.Segundo decisão da justiça, o poder público estadual ou federal deveriam ter tomado providências para coibir, fiscalizar, punir ou minorar os efeitos de uma situação considerada como calamidade pública.Mesmo com todo o sofrimento de crianças, idosos e população em geral, o reinício das queimadas foi autorizado no mês passado. Com o fogo descontrolado em várias regiões, as queimadas não poderiam ter sido liberadas, segundo a decisão do juiz federal.
Rodrigo Vargas do Diário de Cuiabá em 16 de outubro:
Desmatamento e queimadas. Em 2007, a combinação destes fatores vem contribuindo para uma sensível piora nos indicadores da saúde ambiental em Mato Grosso. Os números mais atualizados traçam curvas ascendentes para ambos indicadores. Entre junho e setembro de 2007, por exemplo, foram registrados 44,6 mil focos de calor no Estado. Isso representa um salto de 72% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 25,9 mil focos haviam sido identificados. O desmatamento em agosto, por sua vez, atingiu 250 quilômetros quadrados, ou 138% a mais do que no mesmo período de 2006 – 106 quilômetros quadrados. Entre os meses de maio a julho, o salto já havia sido de 200%. “Existe uma forte correlação entre a quantidade de queimadas e o desmatamento na Amazônia”, diz um trecho do boletim Transparência Florestal, lançado hoje pelas ONGs Imazon e Instituto Centro de Vida (ICV). O estudo lembra que os períodos críticos de queima e derrubadas são coincidentes. Para a análise contida no Mapa, foi feito um cruzamento entre os indicadores do Sistema Alerta de Desmatamento (SAD) e dos dados de focos de calor detectados pelo satélite MMODIS. “Analisamos a evolução mensal da quantidade de queimadas de 2005 a 2007, assim como a localização dessas queimadas em termos de regiões e municípios do Estado”. No caso dos focos de calor, o número identificado em 2007 é 21% inferior ao obtido em 2005, quando foram registrados 56,7 mil focos. “Considerando apenas o mês de setembro, o total de focos de calor em setembro de 2007 (26.781) superou o mês de setembro de 2005 (21.937)”, aponta o estudo. Já o aumento do desmatamento segue uma tendência identificada desde maio. “Esse fato também coincide com o aumento dos preços das principais commodities (gado e soja) e com as perspectivas de expansão de áreas plantadas para biocombustíveis”. Em agosto, os municípios de São Félix do Araguaia, Vila Bela da Santíssima Trindade e Apiacás foram os campeões das derrubadas. Em relação à queima, a ponta do ranking é ocupada por Vila Rica, Confresa e, novamente, São Félix do Araguaia. A maioria do desmatamento (78%) ocorreu em propriedades rurais, assim como a maior parte dos focos de calor (65%). Em seguida, aparecem as Áreas Protegidas e, por último, aparecem os Assentamento de Reforma Agrária.
Um comentário:
"O Licenciamento Ambiental Único (LAU) gerou boas expectativas em relação ao seu êxito, sobretudo, no meio científico e entre ambientalistas. Em um ano (2000-2001), houve redução de 24% na taxa de desmatamento e 53% no número de queimadas. Em 2002, os números do desmatamento reduziram-se mais ainda. A Tabela 2 mostra as médias de desmatamento nesse período: No ano de 2002, esses números eram de 795 mil ha. No entanto, contrariando as expectativas de declínio, os índices de desmatamento no ano de 2003 e 2004 foram bastante elevados: 1.858.000 e 1.814.302 hectares, respectivamente, o que perfaz um aumento de 42,7% em relação ao ano de 2002. É conveniente ressaltar que, do total desmatado no período de 2003,somente 500 mil hectares haviam sido autorizados pela antiga Fundação Estadual de Meio Ambiente.
A avaliação do instrumento coordenada pelo Instituto Socioambiental (ISA), a pedido do Ministério do Meio Ambiente, em 2005, confirma com números o que vinha sendo observado empiricamente por meio dos dados crescentes de desmatamentos no estado. Segundo o relatório, os desmatamentos nos anos de 2003 e 2004, dentro das reservas legais, foram praticamente seis vezes maiores que em outras áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação. Além disso, o estudo mostrou que 48,5% dos desmatamentos em reservas legais nesse período aconteceram em propriedades licenciadas em 2003."
Fonte: Revista do Serviço Público Brasília 58 (1): 37-55 Jan/Mar 2007 (www.enap.com.br
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